25.10.02

será verdade?
O irmão político de Jesus
no mínimo
Considerações de Juan Arias (El País) a respeito da recente descoberta de uma urna funerária que pode ter sido de Tiago, irmão de Jesus. A respeito deste fato, há ainda um interessante relato sobre o mercado negro da arqueologia nos arredores de Jerusalém. Por falta de link, reproduzo aqui o texto de Pedro Dória - aspas:

O tortuoso caminho de Santiago

22.Out.2002 | Está em todos os jornais do mundo, em quase todos com o devido destaque: o ossário de São Thiago, irmão do rabi Yeshua bar Yossef. Só o que ninguém fala com clareza o suficiente – e que por certo vai começar a pipocar que é uma loucura nas próximas semanas – é que, embora possível, o provável é que seja uma falsificação. Mesmo que sofisticado, falso.

A pressão para confirmar a falsificação virá porque derruba dois ou três dogmas católicos. Para a Sagrada Madre Igreja de Roma, José não teve outros filhos e Maria morreu virgem.

Mas isto é o de menos. Uma leitura pelos arquivos da newsletter Culture without context, que trata do mercado negro da arqueologia, traça um bom retrato de como a coisa funciona em Jerusalém e arredores. Não é um jogo de amadores – e uma descoberta deste vulto não aconteceria sem querer. Aramaico não é uma língua morta que só dois ou três entendem – muito pelo contrário. É vastamente conhecida no ramo. O conto do colecionador misterioso e do total desconhecimento do sítio de onde veio a urna é, pois, difícil de acreditar. E é no sítio de onde veio que estarão as maiores pistas – como a possibilidade de fazer uma identificação por carbono 14 para datar a peça com certeza.

Quanto à discussão, se Jesus teve ou não irmãos, é antiga e, naturalmente, insolúvel. Historicamente há apenas duas certezas: Jesus existiu e morreu na cruz. Está registrado em duas ou três frases num texto contemporâneo do cronista romano Flavio José. O resto é uma penumbra só porque o resto, afinal, são os evangelhos.

O assinado por São Matheus data duns 40 anos após a possível morte do messias cristão, todos os outros são posteriores. No início do cristianismo, todos os ritos permaneceram judaicos e a história de Jesus era simplesmente contada de um para o outro. Os evangelhos vieram depois, quando a seita passou a converter crentes doutras culturas. Talvez por isso sejam uma mistura de aquilo que os apóstolos "viram" com textos judaicos anteriores. (Várias passagens, como o Sermão da Montanha, estão em alguns dos Pergaminhos do Mar Morto, de até II a.C., dando a impressão que foram copiados na composição do texto final.)

Escritos em aramaico, estes evangelhos, em finais do primeiro século da era cristã, foram traduzidos em Alexandria por judeus-cristãos para o inglês do tempo – que não era o latim, mas o grego. Os originais perderam-se, sobrou a tradução. Esta palavra "akhui", que liga Jesus a Tiago (ou Yeshua a Ya'acov) quer dizer irmão no original aramaico, mas irmão queria dizer primo também. Em grego perdeu sua ambigüidade.

Os problemas da tradução são conhecidos e serviram de desculpas a pelo menos um punhado de tragédias da humanidade. O mais conhecido é o de Barrabás. Diz o novo testamento que Pilatos perguntou ao povo judeu qual dos seus preferia ver livre: Jesus ou Barrabás – Yeshua ou Bar Abba. Bar quer dizer filho; Abba, pai.

Barrabás não era outro homem, mas um aposto: o filho do Pai.

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